Facebook: o fim da privacidade
Não é mais uma novidade. Todos nós estamos conectados. Passamos horas em aplicativos de mensagens, oscilamos entre as redes sociais e moldamos um constante loop. Estamos absorvendo o novo grande universo da informação. Vivemos de diálogos segmentados com o mesmo grupo de pessoas através de múltiplas plataformas sociais. Esse é nosso futuro, o futuro da informação. Mas, afinal de contas, a quem pertence essas informações? Segundo o Facebook, aparentemente a ninguém, afinal “o futuro é privado”.
Estamos em 2019 e boa parte dos serviços mais utilizados está nas mãos de uma única companhia: Facebook. Após inúmeras aquisições ao longo dos anos, a empresa dispõe em seu catálogo os serviços do Whastapp, Messenger e Instagram. Sendo que, somente com o Instagram, devorou o mercado do Periscope, Snapchat e, até, extinguiu o Vine. Atingindo mais de 2 bilhões de pessoas mundialmente, o Facebook tornou-se a empresa mais poderosa dentro do universo da big data.
E, como não poderia ser diferente, o Zuckerberg sabe disso. Há poucos dias atrás aconteceu o encontro anual com desenvolvedores promovido pelo Facebook, o F8. Com a promessa baseada em “O futuro é privado”, a empresa anunciou os planos de unificar todos os serviços de mensagens em uma única plataforma. Segundo eles, é claro, isso beneficiaria os usuários e melhoraria a privacidade dos dados. Mas, assim como eu, muitos profissionais do mercado não ficaram tão convencidos der ser uma necessidade REAL dos usuários.
Ao meu ver, a verdade é, e sempre foi, um tanto óbvia. Trata-se do Facebook conhecer ainda mais os seus usuários, mapeando os seus comportamentos, independente de onde estejam, para fins comerciais. Precisamos lembrar que: a informação é a moeda do futuro. A princípio soa como um emaranhado de dados que não servem para muita coisa… a não ser, talvez, lotar bancos de dados ao redor do mundo. Observando mais afundo, essas informações definirão o nosso futuro dentro da internet.
A plataforma singularizada do Facebook
Vamos imaginar os produtos do Facebook como uma série de cartões de crédito. Todos eles possuem os seus dados e até conseguem comunicar-se entre si, mas são independentes se tratando de seus comportamentos. Algo parecido acontece com os aplicativos da família Facebook. Veja o Instagram e o Whatsapp, por exemplo. Eles possuem seus próprios banco de dados e suas camadas de identidade – isto é, seu perfil social – separados do núcleo central da rede social. Ou seja, cada app reconhece apenas um fragmento do “seu eu”.
Hoje as coisas funcionam da seguinte forma: você precisa criar um registro em cada uma dessas plataformas, gerando uma “nova identidade”, vazia, dentro de cada banco de dados. Mesmo que, por exemplo, o login via Facebook seja utilizado no Instagram esse é apenas um facilitador. O seu perfil no Instagram ainda não é exatamente o mesmo que seu perfil no Facebook. Esse cenário dificulta a empresa entender onde você está em cada plataforma. A situação fica ainda pior com o Whatsapp, que só exige no número do telefone.
Dessa forma, atuando como serviços independentes fica claro que, para o Facebook, torna-se uma tarefa difícil construir uma única imagem do usuário. Os seus costumes, comportamentos, expressões e, até, diálogos estão segmentados. O que é feito no Instagram, não é conhecido pelo Whatsapp e vice-versa. Mas é claro que alguns dados são relacionados, como os números de telefones e outras informações básicas. Porém, as ações são completamente desconexas. Quando você acessa o Whatsapp e, tempo depois, o Facebook, outra identidade é acessada. Uma “desconhece” a outra.
Acredite, isso é um problema para o crescimento do Facebook. Apesar do produto ser a “rede social”, eles são uma companhia de mídia. A publicidade é responsável por boa parte da receita gerada. O Facebook, por exemplo, não fatura com o Whatsapp desde que o adquiriu. Nada espantoso, afinal é uma atitude comum, no Vale do Silício, apostar mais na ideia do que no produto propriamente dito. E esses apps, sempre foram para o gigante, uma forma de “coletar ainda mais informações sobre os usuários”.
Ficou evidente para os engenheiro das plataformas que as pessoas estão preferindo utilizar as mensagens privadas como meio de comunicação mais do que as redes sociais. Na situação atual, quando milhões migram para os serviços de mensagens instantâneas, o Facebook deixa de “acompanhá-los”, localizando-se no buraco negro das informações. Sem as informações… como prever o comportamento dos consumidores e utilizar a Inteligência Artificial para distribuir publicidade?
Eis que surge a solução do Facebook: unificar a camada de identidade (seus perfis) entre todos os aplicativos da empresa. Agora, eles não trabalhariam mais de forma independente. O mesmo perfil seria partilhado, mapeando as informações que desejarem sobre os seus comportamentos digitais. Com seu perfil centralizado entre múltiplas plataformas, haveria um enorme e recheado “Perfil para Anunciantes”. O grande graal da informação. O verdadeiro você. Um emaranhado de metadados que traduziria tudo sobre você, independente de onde esses dados realmente estejam.
E, olha, nem estamos colocando na mesa o Facebook Pixel, que mapeia o seu comportamento em sites onde ele está presente – e já são mais de 8.4 milhões de sites rastreando seus dados com o Facebook. Na prática, o Facebook conheceria a ti, melhor do que você mesmo. Seria muito mais fácil para a companhia tratar alguns dados e obter as respostas que precisa sobre quaisquer questões.
Por exemplo, apesar do Facebook afirmar que nenhuma mensagem no Whastapp pode ser lida pela empresa, ao agrupar os perfis, você passaria a ser identificável. Com isso, a publicidade no Whatsapp aconteceria facilmente e seus dados comportamentais seriam uma fonte rica e considerável de informações. Sendo interesse do Facebook, por exemplo, uma empresa poderia enviar anúncios publicitários como mensagens por lá – semelhante ao que já acontece no Messenger. As aplicações são inúmeras e você teria um identificador único para saber que “você é o verdadeiro você”.
A mensagem por trás do discurso
No fim, nos deparados com uma mensagem polêmica. Uma plataforma overpower que obtém total controle sobre troca de mensagens entre bilhões de pessoas ao redor do mundo e utiliza esses recursos para mapear comportamentos. É óbvio que o Facebook estaria preocupado com esse discurso. Por isso, um majestoso e brilhante evento para deixar influenciadores, produtores de conteúdo e empresas de mídia babando. Vi inúmeras pessoas, por exemplo, vislumbradas e assistindo ao evento como se fosse o lançamento do mais novo iPhone.
O espanto e a polêmica foram trocados pela ideia “estamos construindo o que os usuários desejam, melhorando a privacidade e a experiência deles”. Bem, esse é o jeito “siliciano” de ser. Afinal, o Vale do Silício é bom em vender ideias. Por isso, também, anos atrás, comprar empresas que geravam prejuízo, como o Whatsapp e Instagram, fez sentido para o bilionário Mark Zuckerberg. “O futuro é privado”, uma frase de impacto que significa apenas a aposta da empresa nos aplicativos privados para conhecer mais sobre você.
Não se enganem, a fusão desses aplicativos só servirá para uma estratégia: transformar o Facebook no maior negócio de publicidade já existente as custas dos dados privados dos seus usuários. Reforço, a informação vale ouro e todos nós estamos trocando-a por nada. Quais são as verdadeiras implicações disso? Bem, talvez daqui alguns anos seremos completamente dominados e a nossa “privacidade” tornando-se a maior ficção da história da humanidade.
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